Estava no aeroporto, outro dia, conversando com um ator e um blogueiro. Um deles se virou para o outro e perguntou: “Quantos seguidores você tem?”. A resposta: “Novecentos, e você?”. Resposta: “Um pouco menos, uns 650 mil.”
Músicos
têm ouvintes, atores têm platéia, escritores têm leitores, mas pelo visto isso
já não diz muita coisa, não há tanto mérito, é uma relação quase passiva. Bem-sucedido,
mesmo é quem tem seguidores, ao menos é o que dizia o slogan de um produto anunciado
em comercial de tevê recentemente, e nem era anúncio de equipamento eletrônico.
Não lembro o produto, mas lembro da promessa: “Você com cada vez mais
seguidores.” Que blusa eu uso, em que loja eu compro, que shoping devo
freqüentar para ter tantos seguidores assim? A ambição agora é ser messiânico.
Jesus tinha seguidores, assim
como Renato Russo. Mas agora qualquer um pode ter seu rebanho, ser um pastor. O
Twitter fundou uma nova tribo. Soube que Caio Fernando Abreu, falecido há mais
de 10 anos, tem hoje 60 mil seguidores. E seus leitores? Já não estão com esse
cartaz todo.
É
apenas uma questão de semântica, claro. Renovam-se as palavras para perpetuar a
sensação de modernidade, de atualização, mas, no fundo é tudo a mesma coisa. Só
que não se pode negligenciar o sentido do termo: a palavra seguidor sugere um
refém intelectual, enquanto que o leitor pensa, reflete, concorda, discorda. O
seguidor não se dá esse trabalho. Apenas xereta.
Eu
sei que é apenas uma expressão, eu sei, eu sei, mas acho estranho, fazer o quê.
Já me perguntaram: quantos seguidores tu tens? Ora, nem às minhas filhas desejo
tal destino. Se eu tivesse um caminhão escreveria no para-choque: “não me
sigam, que estão todos perdidos também.”
É
só um termo atual para definir a prática inofensiva de twittar, mas não sei se
é mesmo tão banal, tão sem significado. Os equipamentos eletrônicos hoje já
dispensaram o plugue da tomada, mas seus usuários, em efeito contrário, estão
criando uma corrente de interligação que despreza a privacidade e a
introspecção. O pensamento alheio virou uma espécie de asilo. Livro serve pra
isso também, mas é uma relação a dois: você que lê e o escritor que lhe
inspira. Há certa sacralidade nesse encontro. Algo de muito pessoal é
preservado. Aquilo que lhe emocionou, que iluminou seu pensamento e que
despertou seu raciocínio é exclusivo, secreto: uma relação obviamente mais
romântica. Por mais popular que seja um escritor, ele é consumido no
particular. Mas se você tem 564.238 seguidores conectados ao mesmo tempo, puf,
evapora-se o mistério.
Todos
viraram gurus uns dos outros.
Me siga que eu te sigo.
Mas para onde?
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